PASSAGENS – O que é?

Destacar a importância das passagens é também considerar a qualidade urbana desses lugares, que não podem ser concebidos como simples equipamentos técnicos. Afinal, além de facilitar o acesso, eles também articulam espaços.
Assim, a qualidade das passagens como espaço social deve ser objeto de particular atenção. Como parte integrante da vida urbana, este espaço é percorrido e apropriado por uma multiplicidade de indivíduos (habitantes locais, comerciantes, transeuntes) com representações, motivos e interesses específicos e muitas vezes contraditórios ou até mesmo conflituosos. As passagens abrigam ritmos de percursos e temporalidades diferentes. Elas podem ser objeto de reivindicações, de apropriações exclusivas ou, ao contrário, de rejeição, marginalização (marcação, comércio ilegal, atos de vandalismo…). Mesmo quando o lugar não é notável, sua apropriação e seus usos são a demonstração de um claro desafio social.

Abrir a passagem para a integração social

Esta dupla perspectiva — da mobilidade à sociabilidade e da escala global urbana àquela da proximidade imediata– torna o tema do programa PASSAGENS uma questão tão crítica que nos confronta com a problemática de exclusão social.

Se bem a complexidade dos sistemas de deslocamentos concerne a todos os habitantes, são principalmente aqueles socialmente mais vulneráveis que têm a necessidade destas passagens: pontes e passarelas para atravessar as vias navegáveis ou férreas, balsas, escadas rolantes, elevadores ou teleféricos para subir as encostas íngremes dos bairros isolados, atalhos por áreas impenetráveis (zonas industriais, distribuidores de estradas, bairros fechados). Alguns exemplos mostram, no entanto, que podemos propor equipamentos de qualidade para todos, como o teleférico de Medellín que, independentemente de ser um objeto técnico, constitui um verdadeiro projeto social que vincula física e simbolicamente os bairros mais pobres com o resto da cidade.

O desconforto da passagem forçada

Em muitas das concentrações urbanas do mundo, as passagens apresentam-se como caminhos difíceis, sem alternativas. Contribuem para tornar o deslocamento desconfortável ou até mesmo perigoso, a ponto de, às vezes, as pessoas renunciarem à sua utilização. Particularmente, para aquela categoria de usuários ameaçados pelo desconforto ou pela insegurança desse trajeto (mulheres, crianças, pessoas com mobilidade reduzida), a falta de sociabilidade do percurso torna-se um fator suplementar de exclusão. Conseguimos, no melhor dos casos, passagens improvisadas, construídas com os meios disponíveis, segundo a lógica local. Por outro lado, no caso de intervenções « planejadas », a suposta « utilidade » é invariavelmente a regra. No melhor dos casos, gera banalidade; no pior, ansiedade e rejeição. O que deveria ser uma coisa agradável, uma vantagem (a passagem como atalho), torna-se um pesadelo (uma atmosfera de opressão e temor).

Direito à passagem e à reapropriação pública

Nesta era da globalização, as passagens parecem estar (paradoxalmente) em processo de diminuição, e inclusive de fechamento, por uma autoabsorção reivindicada em todas as escalas. Sem pertencer a ninguém, algumas passagens abandonadas são transformadas em residências coletivas para os sem teto, ou em locais para práticas ilícitas, pelo qual resultam, de fato, marginalizadas ou excluídas. Com maior frequência, a apropriação se refere a espaços que os habitantes locais reservaram buscando conservar seu microcosmos e evitar a presença de indivíduos não desejados. A passagem fica, então, marcada por uma barreira, uma sinalização, uma forma que desestimula o uso. Também pode chegar a ser « invisível », ou seja, estar protegida por meio de códigos sociais implícitos. Pois bem, a cidade é, pelo contrário, o lugar da confrontação e da interação intrínsecas ao espaço público e não pode funcionar como uma sucessão de passagens privativas. Como evitar que as passagens do século 21 sejam utilizadas para excluir, separar, privatizar?

Um estímulo para a imaginação A passagem é associada aos imaginários da história da literatura, da arquitetura, do urbanismo e do cinema; os quais sofreram transformações de acordo com as representações dos indivíduos, das sociedades e das culturas. Para muitos de nós, é um estímulo para a imaginação. Sua articulação com outros elementos amplifica seu significado singular. Assim, a passageem não é somente um vínculo. Ela deve se tornar o lugar que torne agradável nossa travessia.

 

PASSAGENS – Objetivos

PASSAGENS – Chamado para a inovação

PASSAGENS – Diversidade de formas, de países, de disciplinas

PASSAGENS – Locais demonstradores em curso

PASSAGENS – Intervenções para quem? Com quem?

 PASSAGENS – Equipe