Hortas comunitárias, passagens conectadas às redes de transporte, uso de tecnologias sustentáveis, propostas autogestionáveis, aproveitamento do conhecimento técnico local. Estas foram algumas sugestões discutidas em conversa com representantes de associações do bairro, no terceiro dia de workshop do Passagens Jardim Ângela, .
Durante três horas de bate-papo na Paróquia Santos Mártires, as seis equipes finalistas do concurso trocaram ideias e tiraram dúvidas com membros do Instituto Favela da Paz, do Ângela de Cara Limpa e do Serviço de Assistência Social à Família (SASF 4), além da dona Elza Alves de Lima, líder comunitária local.
“Vivemos em um lugar em que o Estado não dá condições pra gente e ainda somos culpabilizados por estar nesta situação. Por isso, precisamos nos sentir em casa e ter o direito de habitar o bairro com qualidade”, comenta o historiador Danilo Araújo, que desenvolve uma pesquisa de mestrado sobre o contexto histórico do Jardim Ângela, com o objetivo de entender as causas que fizeram a região chegar a esta realidade.
Equipes conversam com líderes locais e representantes de associações. Crédito: Divulgação IVM
Em 1996, a Organização das Nações Unidas (ONU) considerou o bairro o mais perigoso do mundo – sim, do mundo! Os moradores se mobilizaram durante muito tempo para reverter este quadro, lutando por mais aparelhos de segurança, saúde, educação e saneamento. O medo de frequentar a localidade ainda continua, mas projetos como o Samba na 2, do Instituto Favela da Paz, que acontece no segundo domingo do mês, é uma das formas de celebrar a paz na região e mostra sua “outra cara”.
“Vocês conheceram o espaço em frente ao Favela da Paz, lá perto da passagem da Menininha. Você não acredita que naquele espaço eles conseguem reunir mil pessoas com um samba de alta qualidade. Mas a comunidade comprova que sonhar é possível. É isso que esperamos dos projetos de vocês: que vocês possam ter a capacidade de criar uma utopia e ir além”, enfatiza Camille Bianchi, coordenadora da pesquisa Passagens Jardim Ângela desde 2015.
Raphael Poesia, do Nascente dos Sonhos, projeto criado dentro da Favela da Paz, enfatiza o engajamento da comunidade para a criação colaborativa de uma região com mais qualidade de vida. “Temos o lema de ser o que quiser ser; de poder guiar nossos destinos. Mas eu, como morador da região, não tenho o desejo de sair daqui. Então quero ter a possibilidade de poder viver isso no bairro que escolhi”, comenta.
Durante a tarde, as equipes reuniram os insights da conversa e trabalharam no detalhamento dos projetos. Crédito: Divulgação IVM
As equipes agora pensam em ideias que possam utilizar o conhecimento local e envolver a comunidade para criar junto seus projetos para as passagens da Menininha, do Bambuzal e do Fundão. Victor Molina, da equipe do Permacultoras Coletivas, levantou a importância de pensar em passagens que sejam espaços de promoção de vigilância e zeladoria, “lugares de ser e estar, onde moradores possam cuidar do espaço e do movimento local”.
Sulália de Souza, coordenadora da associação Ângela de Cara Limpa, enfatiza a importância do projeto. “Antes, as pessoas fugiam de becos e vielas, mas hoje usam as passagens para cortar caminhos e convivem com elas. Por isso, todas as equipes precisam pensar em propostas junto com a comunidade, para que possam aumentar o sentimento de pertencimento a este lugar”.
Amanhã (8/06), no quarto dia de workshop, as equipes apresentam seus projetos para um júri intermediário com tutores do IVM Internacional e especialistas locais. Acompanhe tudo em nossas redes sociais (Facebook e Instagram).