“Para onde vai?” – pergunta a senhorinha no ponto de ônibus, como quem puxa um assunto para descontrair. “Estou esperando o 669-A”, respondi. Sabe-se que seu destino-fim pode ser o terminal Santo Amaro ou o Santa Isabel. Mas o que acontece em meio ao trajeto?
Por vezes, decoramos números dos ônibus, suas cores, alertas ao “nosso” ônibus, que nos deixa próximo aos estudos, trabalho e nossas casas. Mas a cidade – em especial São Paulo – nos oferece diversas opções dentre serviços, instituições culturais e passeios públicos que seriam ainda mais aproveitados pela leitura da cidade.
Londres iconográfica
Nossas viagens podem ser simples, mas temos direito à informação, muito além de um mero destino final. Em meio à tantas tecnologias, vivemos em uma era de aplicativos, dentre os mais geniais, que nos informam desde quantas calorias há em uma amora até um mapeamento de todos os hostels da cidade, por exemplo. Podemos nos locomover de olhos quase fechados por esses aplicativos, mas a cidade precisa ser lida com eficiência com ou sem franquia 3G.
Em uma viagem pelo 669-A que atravessa a Avenida Paulista, por exemplo, passa-se por diversas instituições culturais, desde as mais iconográficas como o MASP até outras que, em um bater de olhos, podem ser interpretadas como mais um edifício comercial (o incrível Itaú Cultural, o Centro Cultural no térreo do FIESP, dentre outros). Falta articulação.
O edifício da FIESP e o belo Centro Cultural, projeto de Paulo Mendes da Rocha
A cidade precisa ser lida pelo amante da arte, mas também pela leitura despretensiosa de alguém sentado no ônibus. Segundo autores, é o efeito “Eureka”: a descoberta de uma informação, algo que o interessa. Mapas, imagens, totens e telas interativas articulados com o transporte são grandes catalisadores desse efeito. O potencial é enorme: imagina só, um ônibus cujo trajeto é o Bixiga, possuir informações sobre sua história, pontos principais e a cultura italiana? De quebra, após o trabalho você encontra algum amigo seu antes de ir para casa, conhece algum dos mais antigos restaurantes italianos de São Paulo, toca o tradicional sino da sorte… E compreende um pouco mais sobre as nossas culturas.
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Mais informados, a participação na cidade fica mais convidativa. Mais participativos, valorizamos mais a nossa cultura, a nossa cidade. Valorizando mais, nos apropriamos dela. E ela se torna um espaço mais vivo, seguro – o ponto de encontro das nossas vidas sob um espaço democrático. As atitudes são interrelacionadas, e o mundo hoje é conectado pela comunicação, tão bem desenvolvida pela tecnologia. Dessa forma, o convívio se dá em uma rede, e no espaço urbano, essa rede é auxiliada pelo design.
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“Para onde vai?”, pergunto então à mesma senhora, em um cenário potencial; “Voltando para casa, mas antes vou descer na Casa das Rosas, li no ponto que há uma exposição sobre fotografia por lá! E a torta de lá é incrível!”. Sorrio, então, sabendo que a cidade é, afinal, o nosso destino.