Papel da sociedade civil na apropriação da cidade é tema de debate na Folha de S. Paulo

Irene Quintãs (Caminho Escolar), Marcio Nigro (Caronetas), Emmanuel Hedouin, Leão Serva, Valter Caldana, Rodrigo Gonçalves (Dress me UP) e André BIsseli (Ecolivery)

O Instituto Cidade em Movimento –  IVM Brasil e a Folha de S. Paulo promoveram, na manhã desta quinta-feira (13/11), no auditório do jornal, o debate “A Sociedade Civil Reinventando a Mobilidade”, como os ganhadores do Prêmio Mobilidade Minuto 2014.

Os convidados e o público falaram sobre as soluções já implantadas em prol da mobilidade urbana, deram exemplos de alternativas criativas como o estímulo ao compartilhamento de caronas, pedestrianismo e o ato de fazer caminhadas para desafogar o trânsito caótico nas cidades.

Questões como segurança viária, sinalização de ciclovias, recuperação de calçadas e a integração entre modais também fizeram parte das discussões.

A mesa redonda teve como integrantes  Emmanuel Hédouin, gerente de Projetos da PSA Peugeot-Citroën; Valter Caldana, diretor da FAU-Mackenzie e membro do conselho acadêmico do IVM, os representantes das iniciativas ganhadoras Rodrigo Gonçalves (Dress Me UP), Marcio Nigro (Caronetas), Irene Quintans (Caminho Escolar de Paraisópolis), André Bisselli (Ecolivery) e Daniela Gurgel (Movimento Maio Amarelo)  e Leão Serva,  jornalista e colunista da Folha, autor de “Como viver em São Paulo sem Carro”.

Hédouin, da PSA Peugeot-Citroën, destacou que o IVM Brasil tem trabalhado, ao longo desse primeiro ano de existência no Brasil, para estabelecer padrões e propagar práticas voltadas à mobilidade sustentável, divulgar projetos e ações experimentais. “O direito à mobilidade sustentável não é mais um “opcional”, é realmente uma necessidade”, declarou.

O arquiteto Valter Caldana, afirmou que estamos vivendo um momento animador e saudável de repensar a cidade.  “Todos esses exemplos de cidadania e participação da sociedade caminham no sentido de fazer com que haja a reconquista da cidade do século 21,  com todos os benefícios que conquistamos, porém com os parâmetros urbanísticos que nós já vivenciamos”.

Para Leão Serva, a arte do andar se perdeu pela cidade e para que seja feito esse resgate, diz ele, a sociedade tem papel fundamental para cobrar as mudanças necessárias. “Temos visto que há uma crise mundial do Estado, e que as ações da sociedade para solucionar problemas de mobilidade têm alcançado bons resultados”.

“A  sociedade civil está se ‘movendo’ pela mobilidade e isso faz com que esteja cada vez mais qualificada para participar de decisões e cobrar mudanças do poder público.”  Valter Caldana

A arquiteta-urbanista Irene Quintáns, idealizadora da iniciativa Caminhos Escolares de Paraisópolis, primeiro projeto brasileiro para áreas escolares vulneráveis a colocar crianças e adolescentes como protagonistas de ações de mobilidade, citou a importância da participação da sociedade civil e da comunidade. “O engajamento da comunidade para a promoção da cidadania na ação de incentivar que a criança vá a pé ou de bicicleta para a escola, tem reflexos na socialização, na saúde e no desenvolvimento escolar”.

Marcio Nigro, idealizador do aplicativo Caronetas Caronas Inteligentes – sistema de moeda virtual no qual participam funcionários de empresas cadastradas, que acumulam milhagens que podem ser trocadas por produtos ou serviços -, frisou que existe um potencial enorme de vagas em carros na cidade de São Paulo, segundo ele, algo em torno de 20 milhões e inúmeras possibilidades de se criar mais incentivos, além do compartilhamento de caronas. “O transporte de massa já está saturado nos horários de pico, então se antes um carro que transportava apenas o motorista, hoje transporta três ou mais pessoas, isso favorece o transporte público que acaba tendo mais lugares disponíveis”.

Rodrigo Gonçalves, do Dress me Up, que presta serviço de manutenção e estacionamento de bicicletas e banho para ciclistas e corredores, na zona sul de São Paulo, avalia que hoje é uma realidade conciliar a bicicleta com o trabalho e o lazer. “Ainda têm muito forte a ideia da bicicleta como opção de lazer, mas dá para fazer as duas coisas e ter como benefícios mais saúde, pegar menos trânsito e ir e vir mais rápido.”

Corroborando a fala do gestor da Dress me Up sobre a importância do uso de bicicletas como alternativa de deslocamento, Caldana destacou o novo Plano Diretor Estratégico, aprovado em junho, e que vai orientar o crescimento da cidade pelos próximos 16 anos. Segundo ele, esta nova diretriz  supera um apagão urbanístico de muito anos, responsável, entre outras coisas,  por  substituir os estares por  passagens.

Para Caldana, a nova lei poderá “resgatar o uso da bicicleta nas áreas centrais da cidade, pois nas periferias, assim como em cidade do interior, ela sempre foi importante”.

“Por que não seguir modelos americanos e europeus nos quais a bicicleta é referência na entrega de documentos?”, perguntou André Bisselli, da Ecolivery Courrieros.  Segundo ele, além de terem conseguindo criar um serviço de entregas sustentáveis que agrega à saúde e à eficiência, é perceptível o quanto seus colaboradores são mais saudáveis e bem dispostos por trabalharem pedalando.

Bisselli também frisou a importância de se criar mecanismos que reduzam a insegurança do ciclista e a promoção de discussões sobre o que pode ser feito para a melhoria da segurança destes em São Paulo. Para ele, faltam ações que facilitem o conhecimento por parte dos condutores e até dos ciclistas das regras, obrigações e deveres de ambos.

Na mesma linha, Daniela Gurgel, do Movimento Maio Amarelo, baseado em Indaiatuba, no interior de São Paulo, citou a necessidade da difusão do conhecimento do Código de Trânsito Brasileiro. “Trazer essa discussão para a sociedade e fazer com que cada um se autoanalise enquanto motorista, passageiro, pedestre e ciclista, é fundamental para as gerações futuras”.

Da plateia, Gilmar Altamirano, da iniciativa Calçadas Verdes e Acessíveis, responsável por conseguir apoio de moradores e de órgãos públicos para a reforma de calçadas que tinham degraus de até 50 cm de altura na Vila Pompéia, zona Oeste de São Paulo, falou da importância de se recuperar as calçadas já existentes e de se tornar lei a padronização de novas construções na cidade, para favorecer e incentivar o caminhar pela cidade.

 

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