Os hiperespaços móveis como possibilidade para uma transformação radical no planejamento de territórios de dispersão

A cidade não é só a cidade tradicional, centralizada e compacta. A cidade contemporânea é também, e no mundo todo, cidade dispersa e espalhada por todas as regiões metropolitanas. O maior desafio dessa heterogeneidade da morfologia urbana está em garantir um acesso equânime aos serviços, à informação, aos bens e atividades, e desenvolver as intensidades urbanas independentemente dos níveis de densidade. O hiperlugar móvel é uma proposta de transformação radical do espaço, do território, que torna mais intensas as regiões onde ele é mais necessário, seja por causa de um déficit de serviços, seja por causa de um déficit de urbanidade, seja por causa de um déficit de equidade, e que compensa todos esses déficits por meio de dispositivos móveis.

O VEÍCULO AUTÔNOMO CONECTADO COMO HIPERVÍNCULO, CATALISADOR DE ATIVIDADES

Conectados a várias redes de informação e gestão de sua mobilidade, os indivíduos terão a chance de aproveitar o tempo de deslocamento para gerar atividades durante o movimento, no fluxo, por meio de novas redes sociais.

O HIPERLUGAR MÓVEL COMO HIPERMEIO

A atividade ampliada não somente valoriza a sociabilidade no interior dos veículos durante o deslocamento: gera novas categorias de espaços, nas escalas, nas etapas de intermodalidade e de transição, no destino. A condição para a intensidade cívica e social é algo diferente de um lugar ou de um espaço definido pelas ferramentas da cidade tradicional e pelos edifícios. É o dispositivo móvel que abre caminho, facilita as relações sociais em um lugar, depois em outro lugar, de maneira efêmera.

OS HIPERLUGARES MÓVEIS COMO RESPOSTA ECOLÓGICA À EXPANSÃO DAS CIDADES?

No lugar de imaginar o fazer a cidade como uma construção cara, no que diz respeito aos investimentos e à energia (energia que, ao menos potencialmente, não se adapta à evolução contínua das necessidades e dos modos de vida), se trata de pensar como, por meio da gestão da mobilidade, podemos criar serviços, diversificando os espaços e seus recursos, multiplicando, com isso, as possibilidades de interação entre proximidade e distanciamento, entre atividades e interações sociais, voltando a conferir mais qualidade aos territórios percorridos: abrir caminho de outra maneira.

UM DESAFIO PARA UMA CIDADE JUSTA E DEMOCRÁTICA

Será preciso muita prudência para evitar que o desenvolvimento contínuo desses veículos autônomos e das atividades conectadas e em movimento crie novas formas de privatização desses espaços de fluxo e limite o acesso de certos grupos e pessoas, em função de suas capacidades ou de seus recursos. Nesse momento, as políticas públicas têm um papel crucial para assegurar que essas inovações estejam a serviço de um acesso democrático aos bens da cidade, para que o direito à mobilidade seja também direito à cidade.

CARLES LLOP

Traduzido do texto original. Carles Llop é arquiteto e urbanista, e professor na ESTSAV-UPC Barcelona. Faz parte do Conselho Científico do IVM Internacional.