Aplicativos de vizinhança: como a conectividade pode aproximar pessoas sob causas positivas ou controversas

Em tempos de smartphones e infinitas possibilidades a um clique de distância, aplicativos relacionados à vizinhança são uma realidade no Brasil e no exterior. Dentre eles, há os que buscam uma humanização, a retomada da interação entre os habitantes de um bairro; há também os que mobilizam o estado de vigilância, sem necessariamente buscar o contato visual em carne e osso.

Um aplicativo pioneiro nesta área é o Nextdoor, lançado nos Estados Unidos em 2011. O objetivo é que ele mobilize a interação entre pessoas de uma vizinhança por meio de mensagens, eventos, pesquisas ou alertas.

 

Integração. Ilustração: Salini Perera.

 

Segundo a empresa, eles são uma rede social baseada na proximidade, e não na preferência. Uma pessoa pode, por exemplo, solicitar uma recomendação de serviços locais e alguém próximo poderá contatá-lo como em um fórum digital. Tendo em vista a gama de possibilidades, um aplicativo que propicie a interação entre vizinhos pode colaborar para a sociabilização e contato humano nestes locais; conhecer aquele que mora próximo à nós não é uma realidade tão presente em tempos digitais.

 

E O CENÁRIO BRASILEIRO?

No Brasil, a startup Tem Açúcar? foi apresentada ao público no ano de 2015, e tem um apelo mais específico quanto a interação entre vizinhos. Neste caso, aposta em uma rede colaborativa para necessidades do cotidiano, como por exemplo, emprestar um pouco de açúcar do seu vizinho. No site Tem Açúcar? você pede por ajuda e assim que alguém a oferece, ele as coloca em contato. Em um mês após seu lançamento, a startup tornou-se um fenômeno com mais de 18 mil cadastros e participação em 580 cidades do Brasil.

Sob outro enfoque, há aplicativos que são direcionados para a vizinhança mas para a questão da segurança e vigilância. O ViZin é um aplicativo que nasceu também em 2015; seu objetivo é unir os vizinhos interessados em colaborar na segurança do bairro. Os idealizadores do aplicativo afirmam que muitas pessoas se manifestam pelo whatsapp sobre a vizinhança porém assuntos importantes são dispersados. Ao se utilizar o ViZin, há um foco nos alertas de segurança e a informação tem uma compreensão objetiva.

 

CONTROVÉRSIAS

Considerando a subjetividade humana do que é um alerta de segurança e o que se apresenta como perigo, podemos fazer um paralelo com um episódio controverso do aplicativo Nextdoor nos Estados Unidos envolvendo preconceito racial. Na California, foi descoberto que alguns moradores estavam usando o aplicativo para rotular pessoas afro-descendentes como perigosos ao bairro, por exemplo. Após o incidente, a Nextdoor tomou providências e criou novos parâmetros para não haver menções raciais em um primeiro plano.

 

ENTRE PRÓS E CONTRAS

O meio digital, então, apresenta novas possibilidades de interação – que de maneira alguma, devem substituir a experiência de sociabilização em carne e osso com o seu vizinho. Da mesma maneira que a vivência física, o meio digital precisa de atenção e parâmetros para não se tornar um ambiente tóxico e de conflitos, e apresenta potencialidades para a retomada do reconhecimento da vizinhança em doses moderadas.

Fontes:

https://www.theglobeandmail.com/life/home-and-design/article-nextdoor-bets-on-the-power-of-neighbourhoods/

https://www.projetodraft.com/tem-acucar-tem-boa-vizinhanca-e-tem-colaboracao-como-um-site-esta-resgatando-o-costume-de-pedir-emprestado/

https://www.opopularpr.com.br/app-cria-rede-de-seguranca-nos-bairros/