África: a mobilidade além das suas limitações

Lugares n-dimensionais que oferecem a oportunidade de n-atividades: esses espaços em movimento estão surgindo e podem ser vistos na África, em um contexto muito específico, caracterizado pela insuficiência de infraestrutura social básica, combinada com a capacidade de invenção de uma população de baixa renda. Como resultado disso, estamos vendo o crescimento de serviços entregues diretamente à população graças a aplicativos digitais montados em veículos. Trata-se de novas mobilidades – com novo paradigma de motivo para se deslocar. O indivíduo não se desloca mais para alcançar algum serviço -ao contrário, é o serviço que chega até ele. Em alguns casos, outros serviços acompanham o indivíduo em seu deslocamento diário. Por exemplo, a possibilidade de fazer uma refeição ou tomar um café (em restaurantes ou cafés móveis), ou de usar seus smartphones (em táxis ou ônibus conectados).

Em todos esses casos, criam-se interações temporais múltiplas envolvendo os usuários, os fornecedores e os lugares, de acordo com os itinerários e as paradas, o que acaba gerando espaços espontâneos de atração. O exemplo mais claro disso é o da bicicleta-quiosque equipada com painéis solares, que fornece wi-fi e eletricidade para carregar os dispositivos eletrônicos. Isso é claramente uma resposta ao problema do fornecimento de energia elétrica no continente, no qual, paradoxalmente, a posse de smartphones (equipamento muito dependente da eletricidade) tem a taxa de crescimento mais alta do planeta.

Estas novas mobilidades, em resumo, encurtam os tempos do desenvolvimento, indo da insuficiente infraestrutura de caros equipamentos urbanos até soluções muito mais simples e acessíveis, em referências reduzidas e conectadas. Bibliotecas, centros de saúde, bancos colocam-se em movimento, criam microlugares que se aproximam e se afastam, e que são não somente hiperlugares, mas vetores de um verdadeiro salto infraestrutural.

 

YAO SAGNA

Traduzido do texto original. Yao Sagna é arquiteto e urbanista, fundador da agência de arquitetura Cosmos.