por Arq. Horacio Aiello, diretor técnico do projeto Ciudad Legible.
Em nossas cidades, mais ou menos organizados em redes, como cartelas de comprimidos, em que as pílulas são os espaços privados e o plástico, ou metal, que as envolve, o espaço público, a reflexão sobre a forma de transitar entre eles deve ocupar um lugar central no planejamento urbano.
E a qualidade desta reflexão depende da aceitação do que já existe e da capacidade de maximizar o potencial das cidades e da participação do cidadão que se beneficia, ou sofre, com as soluções propostas.
Isso significa estabelecer um protocolo para a cidade legível.
Para se deslocar de um lugar para outro na cidade, usando o transporte disponível, é necessário entender a intermodalidade. Isto não é nem mais nem menos do que saber onde, como e quando mudar de meio de transporte para uma viagem entre meu ponto de partida e meu destino. Em pequenas cidades organizadas da Europa isso é muito claro, porque seus sistemas de transporte foram planejados de forma centralizada. Mas em nossas mega-cidades, em plena expansão, com sistemas de transporte anárquicos, a informação não é tão clara e, além disso, é tão complexa que não pode ser exibida de uma vez só. É preciso então dosar os dados nos diversos momentos da viagem.
Deste modo, o principal desafio ao fazer um protocolo como este é definir quais os dados a informar ao viajante ocasional, considerando sempre a qualidade e a quantidade desta representação para que seja de fácil leitura e compreensão.
A viagem pelo espaço público
Se Darwin estiver certo, evoluímos a partir de pequenos mamíferos que sobreviveram à extinção dos dinossauros. Estes se moviam rapidamente pelos densos campos construindo involuntariamente caminhos em duas dimensões. Quando havia um cruzamento, estes pequenos animais usavam o sentido do olfato para decidir se virar à direita ou à esquerda e diferenciar seu percurso do de outros.
Com o passar do tempo, nossas patas dianteiras viraram mãos, perdemos o olfato como meio de orientação e aprimoramos nossa visão. Hoje somos bípedes implumes e esta última característica nos impede, obviamente, de voar e, por isso, nosso cérebro precisa ser reeducado para interpretar uma visão aérea de nossos caminhos. Esta é uma das razões pelas quais a maioria das pessoas tem dificuldade em interpretar mapas _ além, é claro, do fato de que eles contêm mais informações do que nós precisamos no momento da consulta.
Elementos de orientação para os momentos da viagem
No projeto Cidade Legível, nosso objetivo é criar um conjunto de símbolos, que as pessoas possam interpretar, de tudo que esta em um raio de 5 minutos de caminhada: ruas, combinações modais, cruzamentos, estações de metrô, de trem, passarelas para pedestres, estações de bicicletas, além de marcos reconhecíveis para identificar, hospitais, parques e praças, shoppings, universidades e outros locais de interesse.
Todo este conjunto em um pequeno diagrama topológico com a quantidade certa de informação para que o passageiro tenha liberdade de escolha consciente ao subir e descer de um ônibus, fazer integração com outras linhas ou mesmo ao buscar caminhos alternativos quando tiver vontade ou quando as condições de trânsito ou de tempo exigirem.