Workshop Passagens Dia 2: palestra com tutores internacionais

“A cidade é um sistema espacial de intercâmbio de serviços e de fluxos. Temos que parar de dividi-la pela visão dualista de centro e periferia. Assim como temos que pensar nas passagens com fluidez: não é um espaço de entrada e saída, mas é uma continuidade”. As palavras do arquiteto e urbanista Carles Llop, de Barcelona, permearam o segundo dia de workshop do concurso Passagens Jardim Ângela. Carles é um dos tutores  das equipes finalistas e palestrou no encontro “Passagens: o desafio de conectar as pessoas à cidade“, que aconteceu no IAB-SP (Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo).

Durante a palestra, a diretora do IVM Internacional, Mireille Apel-Muller, apresentou as experiências de quase 20 edições de concurso que já reuniu 300 grupos interdisciplinares e 40 nacionalidades. Aproveitou também para explicar com mais profundidade o sentido das passagens e a importância de pensarmos os projetos em três pilares: como um lugar, como uma conexão e como uma transição. “No sentido da transição, usamos a imagem de uma pessoa que, ao passar por uma passagem, desata o nó da gravata e transita para ‘outro mundo’ [do trabalho à sua casa]. Esta é uma imagem que mostra como precisamos pensar estas passagens no sentido de articulação entre dois espaços e, além disso, desenhá-las junto com a infraestrutura local”.

A articulação da passagem com a rede de transportes e o consequente “acesso à cidade” foi um dos pontos principais da apresentação da arquiteta colombiana Natalia Castaño – também tutora no workshop. Ela destacou a importância de conectar as pesquisas e o diálogo com os moradores locais ao papel do poder público como realizador destes projetos. Apresentou a experiência realizada em um bairro de Medellin, muito parecido com o Jardim Ângela: altos índices de violência, fraca presença do Estado e fragmentação física e social. Teleféricos ligados à rede de transporte, pontes que se converteram em lugares de encontro e espaços arborizados e acolhedores transformaram o cenário sócio-cultural e aumentaram em 300% o comércio local. “Em um espaço tão populoso, onde há poucos lugares para lazer, é a rua que precisamos ocupar. Foi o que fizemos neste bairro: tiramos o medo das pessoas em frequentá-lo e conseguimos reunir crianças, jovens, famílias e artistas de diferentes regiões para ocupar estas passagens e criar processos culturais temporários. Assim, ressignificamos o sentido de cidade”.

Projeto de revitalização de passagens apresentado por Natalia Castaño Cardenas, em Medellin.
Crédito: EDU – Empresa de Desarrollo Urbano – Medellín

O arquiteto e urbanista francês Pascal Amphoux aproveitou para trazer algumas fotos da visita ao Jardim Ângela, realizada no dia anterior, para exemplificar pontos que precisam ser pensados pelas equipes no aprimoramento das propostas para as passagens: autorizar a possibilidade de permanência e parada; analisar sua dimensão social, emocional, funcional e sensível; articular as diferentes escalas destas passagens e criar uma estratégia geral para pensar as intervenções além do que já foi realizado na primeira fase do concurso.

Os temas centro versus periferia e a fluidez das passagens, abordados durante as palestra,  foram alvos de discussão entre os grupos no período da tarde. No momento em que todos se reuniram para iniciar os trabalhos e conversar com os tutores, Tiago Brito, do Estúdio+1, levantou a questão. “Vamos parar de tratar a periferia e o centro como nós e o outro? Nós todos fazemos parte da mesma cidade e queremos a mesma coisa: qualidade de mobilidade, de áreas verdes e de segurança”. Natalie Castaño acrescentou. “Além disso, os projetos precisam ser mais fluidos e não fragmentados. É necessário comunicar estes espaços como parte de um sistema de movimento da cidade”.

Os projetos serão apresentados na 11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo. O arquiteto e urbanista André Goldman, assistente de direção geral do evento, afirmou a importância do programa Passagens por se conectar aos pilares da Bienal como imaginário da cidade, a criação colaborativa e o espaço de infraestrutura. “Queremos apoiar iniciativas como esta, que pensam o legado para a cidade e projetam um olhar real de transformação”.

Equipes discutem os primeiros passos para os desenvolvimentos dos projetos com os tutores. Crédito: Divulgação IVM. 

Após o dia de palestras, discussões e trabalho em grupo, as equipes se preparam amanhã para uma segunda visita ao Jardim Ângela e para mais uma roda de conversas com associações locais. Acompanhe em tempo real nas nossas redes sociais (Facebook e Instagram).