Comunidade envolvida e motivada pelo Passagens Jardim Ângela

Um projeto não existe se não há uma ideia e uma ideia não é colocada em prática se não se acredita nela e se tenha quem a concretize. Com a revitalização da escadaria da Rua Miguel Dionísio Valle, no Jardim Nakamura, distrito do Jardim Ângela, foi bem isso. Desde os levantamentos, iniciados em março de 2015 pelo Instituto Cidade em Movimento (IVM) e pela ONG Cidade Ativa, dentro do estudo Passagens Jardim Ângela, a comunidade local sempre esteve envolvida. Não à toa, moradores, comerciantes, educadores e associações locais participaram das reuniões, nas quais elaboraram-se as ações do projeto Olhe o Degrau no bairro, que foram colocadas em prática nos dias 10 e 11 de junho.

Entre as associações que participaram – e apoiaram – do projeto desde o início estava a Família Nakamura, ou FNK. A princípio, um time de futebol e escolinha para crianças da comunidade, mas, atualmente, com projetos dos mais variados, ligados à prática de esportes e artes (aulas de violão e grafite), que acontecem na Escola Estadual Oscar Pereira Machado, onde toda a ação foi não só sediada, mas organizada.

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Para Marcos Pereira, mais conhecido como “São-Paulino”, presidente do FNK, quando o Cidade Ativa e o IVM apresentaram o estudo do projeto Olhe o Degrau e propuseram parceria com a comunidade, para revitalização da escadaria em frente à escola, não houve quem não quisesse participar. “Como pai de aluno e morador da comunidade há quase 30 anos, me coloquei à disposição do que precisassem. O FNK foi um dos divulgadores do trabalho e conseguimos a participação maciça do bairro. Todos viram no projeto uma perspectiva de melhoria na qualidade de vida dos moradores, principalmente das crianças”, garante.

Escola transformadora – “Mais do que envolver uma escola é importante envolver uma comunidade toda.” Essa é a melhor definição da ação promovida no Jardim Ângela no entender de Claudinei Queiroz, diretor da Escola Estadual Oscar Pereira Machado.

Para ele, a ação teve a participação de todos, incluindo comunidade, empresas e entidades, mas com um bem comum: a melhoria de uma passagem. Essa ação também pode ser vista como um resgate ou mesmo a criação de uma cidadania na população local. A escola – pais, professores, alunos e a direção – esteve 100% envolvida com a ação. A escadaria escolhida, mais do que estar na frente da escola, é extensão dela, pois grande parte a usa como passagem. “Esse é um grande projeto visando a cidadania dos nossos alunos e a integração da escola com a comunidade”, afirma o diretor.

Segundo ele, a escola, nos dias de hoje, não pode ser mais uma ilha em meio à comunidade, mas deve estimular a participação em ações como essa. É papel dos educadores incentivar o protagonismo dos jovens em movimentos que tragam o bem para a região em que vivem – para o País.

De acordo com o educador, a participação de todos antes e durante a revitalização foi importante, mas a sequência é ainda mais fundamental. A manutenção e preservação do espaço, uma etapa posterior, deve contar com o mesmo afinco de antes. “Esta ação foi uma aula, parte fundamental na educação desta população. A preservação é um processo de construção de consciência e de educação. Só aprendemos a conservar quando colocamos a mão na massa. Quando sabemos o quanto custa cuidar, preservar, inovar e revitalizar. Por meio da revitalização do espaço do escadão, crianças, jovens e pais vão aprendendo a ter atitudes mais cuidadosas de preservar o meio ambiente e todo o entorno em que vivem”, ensina o professor.

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Identidade por meio das tintas – Parte fundamental de todo o processo de revitalização da escadaria, o grafite produzido especialmente para a localidade também teve participação da comunidade. O grupo Ciclo Social Arte, ou Ciclo SA, foi responsável pela pintura e grafites das paredes da escadaria revitalizada no Jardim Nakamura, por meio do projeto Olhe o Degrau-Jardim Ângela.

Michel Onguer, um dos responsáveis pela Ciclo SA, vê como altamente benéfica a ação não só para o bairro em si, mas para seus moradores, que vêem (e tem participação) a mudança da comunidade. “Fomos contatados lá atrás pela ONG Cidade Ativa em razão de um trabalho que já desenvolvemos no Nakamura e no Ângela. A própria escola tem grafites nossos”, explica Michel.

Eles foram convidados a participar das reuniões e discussões e contribuíram com ideias ao Cidade Ativa e IVM. “Das conversas iniciais percebeu-se que os objetivos do projeto se casavam com a nossa filosofia de criar arte na comunidade. A partir daí, a proposta que se colocou em prática foi pensada e desenvolvida. O ideal da Ciclo é ocupar e transformar os ambientes, levando um pouco de cor e arte. Os objetivos do projetos se casavam com isso”, assegura.

Os 15 grafiteiros que trabalharam são, em sua maioria, moradores do próprio Jardim Nakamura, mas, segundo Michel, houve também envolvimento de artistas de outras regiões da cidade e até um grafiteiro do Chile, convidado pelo grupo. A maior parte dos grafiteiros é composta por profissionais reconhecidos, com trabalhos autorais espalhados pela cidade.

“A Ciclo existe exatamente para fazer trabalhos como esse, por isso nosso interesse em aceitar o convite. Somos um projeto social e atuamos nesse nicho cultural, usando o grafite como ferramenta para isso. O trabalho que fizemos na escadaria foi somente mais um passo de nossas ações, mas muito ainda pode e deve ser feito. Temos certeza que este foi o início de outras ações que vêm por aí. São os moradores os primeiros que sofrem, mas são eles que devem, primeiro, mudar suas realidades”, conclui.

Em tempo: a tinta usada nos grafites, fruto de doação ao projeto por parte da GED Inovação, é totalmente ecológica e sustentável.

 

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