Um manifesto pelo direito à cidade

Em certo momento da história do urbanismo, as cidades, cujo coração da vida social era o espaço público, passaram a tornar-se um espaço de passagem, e não mais de convívio. Praças cortadas por infraestruturas viárias, avenidas alargadas a ponto de não haver mais calçadas adequadas para os pedestres, são alguns dos exemplos. A cidade requer mobilidade, porém a mais essencial delas deve ser respeitada: a do pedestre. É o que ativa o espaço público de uma cidade.

O IVM, em sua linha de ação de pesquisa em mobilidade, apresenta um manifesto sobre esses espaços de transição: o Manifesto Passagens. Além da linha de pesquisa do instituto, a frente Passagens e os projetos do Instituto. Em uma série de treze itens, o Manifesto fala sobre as passagens como um espaço de conexão, mas principalmente, como espaço de direito do caminhante.

As passagens hoje podem ser vistas como barreiras, obstáculos, espaços encravados, mas a partir do momento que ela é percebida como oportunidade, a passagem é o elo que permite a escolha de deslocamento – a pé, de bicicleta ou motorizado – em harmonia com o espaço. Dessa maneira, os diferentes meios de transporte são complementares, em vez de fragmentados.

Criar passagens é adaptar o espaço à topografia, conectar as atividades locais entre si: ela é a pequena escala que pode mudar tudo. A passagem é o elo entre todas as mobilidades. Confira o Manifesto e siga acompanhando o IVM.

 

 

MANIFESTO PASSAGENS 

 

1.CRIAR PASSAGENS É AFIRMAR O DIREITO DO CAMINHANTE

condição da urbanidade contemporânea

 

  1. CRIAR PASSAGENS É CONECTAR

os fragmentos da cidade, condição de integração e fluidez

 

  1. CRIAR PASSAGENS É IDENTIFICAR

as barreiras de ontem e antecipar os obstáculos de amanhã, é estabelecer, restabelecer e manter locais para transportar as redes de transporte de grande escala

 

  1. CRIAR PASSAGENS É INVENTARIAR,

cartografar e colocar em rede elos para atravessar territórios encravados de escala intermediária: o gueto rico ou pobre, a zona de atividade, o grande comercio, os condomínios, as áreas onde há hospitais.

 

  1. CRIAR PASSAGENS É COLOCAR EM PRÁTICA

políticas de prevenção contra a emergência de barreiras novas e traiçoeiras, mesmo em pequena escala (mobiliário urbano, paineis para cartazes, estacionamento de bicicletas, entrada de carros, ocupação de calçadas).

 

  1. CRIAR PASSAGENS É ACOMPANHAR

a diversificação cada vez maior dos modos de deslocamento individuais (a caminhada, a pedalada, o deslizar) e os acessos a serviços (compartilhamento de carros, de bicicletas…) na concepção das redes e das ruas

 

  1. CRIAR PASSAGENS É SUPERAR

a ruptura entre os modos e os ritmos de deslocamento graças aos espaços de conexão. É uma condição da multimodalidade de cada um dentro da cidade.

 

  1. CRIAR PASSAGENS É ACRESCENTAR

informação, serviços e amenidades – físicas ou digitais – é moldar o hub das mobilidades leves, é suscitar o desejo de experimentar os lugares; à funcionalidade deve se integrar a vitalidade do lugar

 

  1. CRIAR PASSAGENS É CONSIDERAR

os efeitos visuais, sonorous, dinâmicos e propioceptivos. A vitalidade do lugar deve-se à sensação de movimento, de paisagem e a percepção da transição para outros lugares.

 

  1. CRIAR PASSAGENS É FACILITAR

os atalhos, as dinâmicas do corpo e do movimento, os deslocamentos de pequenos veículos interconectados, a eficiência de uma intermodalidade generalizada para evitar os desvios e demoras.

  

  1. CRIAR PASSAGENS É ADAPTAR

o espaço à topografia e às práticas locais dos lugares que elas conectam, e também inspirar novos usos. Para cada lugar único, uma ligação única.

 

  1. CRIAR PASSAGENS É CRIAR

espaços de transição que se adaptam às características e às mudanças dos modos de vida metropolitanos: fabricar os lugares de recursos para o pedestre valorizado, enriquecer a experiência sensorial, comum ou inédita. Para um local único, uma transição específica

 

  1. CRIAR PASSAGENS É LEVAR A SÉRIO

a pequena escala que muda tudo numa multiplicidade de questões e de atores, e inventor as modalidades de cofinanciamento; é cuidar do que existe para constituir o ecossitema das mobilidades interconectadas. Para uma passagem única, uma rede de passagens.