Reestruturação urbana, tecnologia e caminhabilidade em “Ville et Voiture”

“Ville et voiture” é uma coletânea de artigos sobre a cidade e as vias urbanas, sob a coordenação de Ariella Masboungi, Mathis Güller, Nicolas Segouin e Antoine Petitjean.

A obra discute como a cidade do século XX acabou apresentando um urbanismo funcional, que não condiz com a escala humana do pedestre. Como consequência, a infra-estrutura viária que acabou avançando sobre o espaço público, os problemas ambientais pela emissão de poluentes e os sociais, quando o espaço urbano constitui uma barreira ao convívio.

“Ville et Voiture” traz reflexões sobre diversos autores, quanto a articulação da mobilidade com políticas urbanas de reconfiguração do espaço público. O objetivo é fomentar alternativas para uma nova formação de cidade, mais agradável ao pedestre e sustentável ao meio ambiente.

 

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Mireille Appel-Muller, diretora do Instituto Cidade em Movimento, colabora com o texto “Renouveler la figure urbaine du marcheur”, que discorre sobre a renovação da imagem urbana a partir do caminhante. Appel-Muller cita a importância da perspectiva da cidade pela visão das pessoas e como pode ser um espaço de respeito entre os meios de locomoção.

“Mobilidade não é apenas transporte, mas uma questão social, de percepção, de apropriação” diz Mireille.

Atualmente, os aplicativos tem tentado melhorar a experiência do pedestre frente ao avanço da tecnologia aos outros transportes, a partir da informação. Dentre eles, os relacionados as atividades físicas, por exemplo, tentam retomar o espaço comum como de convívio e lazer. Como atitudes urbanísticas, a autora cita a intermodalidade como positiva, pela interação de respeito entre os meios de transporte; as passagens como espaços de transição (entre os transportes velozes e os centros urbanos com pedestres), que podem ser ativados com amenidades e mais conforto.

Discutindo cenários de curto a longo prazo, a coletânea discute a comunicação e a tecnologia como fortes articuladores da mobilidade no século XXI. Poder se locomover e ter informações sobre o transporte em tempo real já é uma realidade, mas não amplamente instalado. A energia elétrica está em ascensão, e pode ser vista em transportes públicos como os TRAMs (conhecidos como VLT ou veículo leve sobre trilhos), além dos carros híbridos.

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fonte: flickr.com/charliedee. Fotografia por Charles Dyer.

Em cenários de território estabelecido, o capítulo “La Ville Consolidée (Walkable City)” apresenta panoramas que reforçam a reestrutuação de vias já existentes com foco em transporte não poluente e público; por exemplo, em Nice, os trams ajudaram a ativar o espaço público e ocuparam parte das vias que estavam obsoletas pelo transporte de automóveis.

Quanto aos espaços menos centralizados das cidades, as infraestruturas urbanas são discutidas em um dos sub capítulos de “Ville Intermediaire”. Pierre Alain Trévelo, arquiteto e urbanista, discute as infraestruturas urbanas nas periferias, criticando o seu modo de inserção. Na paisagem, geram uma descontinuação urbana – Trévelo comenta a desarticulação que isso gera no espaço público.

Com relação ao desenho urbano, Stéphane Lemoine, arquiteto, discute sobre os percursos humanos e os transportes. “Du transport de masse a la mobilité” ou Do transporte de massa à mobilidade, discute como as cidades se transformaram de acordo com os meios de transporte. Lemoine ressalta a necessidade de pensar os micro percursos na metrópole. Os motivos dos movimentos, o ritmo e a frequência são alguns dos fatores fundamentais para compreender a escala humana. Um espaço que permita fluxos e usos diversificados pode gerar um território de muita vivacidade, segundo o autor.

“Ville et Voiture”. Sob a direção de Ariella Masboungi, com Mathis Güller, Nicolas Segouin e Antoine Petitjea – Éditions Parenthèses, 2015.