Quando passagens se transformam em espaços sensíveis e criativos

Se você buscar o significado da palavra “passagem” em qualquer dicionário vai encontrar como sinônimos as seguintes expressões: lugar por onde se passa, travessia, transição. Um caráter funcional de ligar um ponto a outro, apenas. Não é de se espantar que foram criadas somente para este objetivo, quando a urbanização se tornou intensa no século 19. Mas como imaginar passagens para as cidades contemporâneas, tão difusas e fragmentadas principalmente em razão de sua rede de transportes? Como podemos transformar estas articulações urbanas em lugares mais sensíveis e portadores de urbanidade?

Com estes questionamentos em mente, trazemos aqui três exemplos de passagens funcionais mas também criativas e lúdicas em São Paulo que foram ressignificadas por agentes, coletivos e ativistas urbanos. São inspirações que podem trazer ideias para você que deseja participar do concurso nacional “Passagens Jardim Ângela”, com inscrições abertas até 10 de maio. O concurso tem como objetivo identificar e promover projetos que recuperem o sentido social de três passagens do bairro Jardim Ângela, com a menor intervenção possível e o maior impacto. Saiba mais aqui.

Veja abaixo um pouco mais sobre estas passagens com ideias facilmente replicáveis em qualquer bairro ou cidade.

PASSANELA

“Passanela”, após a oficina realizada em 2015. Crédito: Cidades para Pessoas

Você sabia que as passarelas de pedestres são foco de atropelamentos de trânsito? A afirmação é do projeto “Cidades para Pessoas”. Parece contraditório, mas há explicações. Estas passarelas construídas sobre vias expressas são sinônimo, para quem caminha, de um lugar inóspito, cansativo, desinteressante. Por isso muita gente prefere se arriscar e atravessar nas próprias vias de alta velocidade.

Com este problema em mente, o Cidade para Pessoas promoveu uma oficina em 2015 para prototipar uma solução que transformasse a travessia das passarelas em uma experiência mais desejável para a caminhabilidade. O lugar escolhido foi a passarela da Avenida Rebouças (Hospital das Clínicas), no Centro de São Paulo, onde foi criada a “Passanela” a partir de cinco pilares:

  • Sombra: por meio de um varal colorido, os tecidos se movimentam com o vento e sombreiam o caminho.
  • Bancos: feitos com pallets, são pontos de descanso e de apreciação da vista.
  • Paisagem: as cores e a estrutura de bambu transformam a passarela em um lugar mais convidativo.
  • Escala Humana: uma passarela longa, perto de prédios altos sobre uma avenida. A estrutura devolve a escala humana a este lugar.
  • Bioconstrução: mobiliário urbano feito com bambu

Hoje, o espaço precisa de uma nova revitalização, então fica a sugestão de unir forças para recuperar novamente esta passagem!  Mais informações você pode acessar no site oficial do Cidades para Pessoas.  


PASSAGEM LITERÁRIA DA CONSOLAÇÃO


Espaço cultural no subterrâneo da Avenida Paulista com Consolação. Crédito: Sheila Calgaro/IVM Brasil

Na esquina da Avenida Paulista com a Avenida Consolação, ou melhor, em seu subterrâneo, existe uma passagem que se tornou um mundo à parte. Ao descer as escadas você já se depara com um graffiti do Mundano e a seguinte frase: “Não é metrô porque é grátis e te leva mais longe”.

Lá dentro, um espaço cultural, com sebos de livros e discos, exposições, música e arte. O projeto foi pensado pelos livreiros que antes ocupavam a Avenida Paulista, mas foram obrigados a abandonar o comércio ambulante da região. Foi aí que surgiu a ideia de criar um lugar para exercer a profissão de maneira regular. Após intensa reforma com apoio da Subprefeitura da Sé, que começou em maio de 2005, a passagem foi aberta ao público em novembro do mesmo ano.


DEGRAU COTOXÓ

Espaço cultural no subterrâneo da Avenida Paulista com Consolação.
Crédito: Sheila Calgaro/IVM Brasil

O bairro da Vila Pompéia, na Zona Oeste de São Paulo, é formado por uma paisagem com diversas escadarias e presença da arte urbana. A partir de agosto de 2016, a organização Cidade Ativa promoveu um processo de pesquisa, engajamento, reforma e requalificação da escadaria na Rua Cotoxó, envolvendo usuários e moradores para manter a identidade do bairro.

Alguns problemas como falta de visibilidade, pouca iluminação, irregularidade do pavimento do piso e falta de corrimão foram solucionados. As intervenções nas paredes feita por artistas locais garantiram a originalidade e reforçaram a importância do espaço como referência de arte urbana em São Paulo.