Coletivo
SAO PAULO, SAO PAULO
São Paulo, como toda megalópole, tem um sistema de transporte público que é ao mesmo tempo complexo de administrar e fundamental na vida de milhares de pessoas. No caso específico da cidade de São Paulo, os quase 3 bilhões de passageiros transportados por ano sofrem com a falta de informação, tem dificuldades em planejar seus deslocamentos e são constantemente surpreendidos por falhas, problemas e acidentes. Em resumo, a experiência do usuário de transporte público em São Paulo é muito ruim. Nos últimos anos, os passageiros que dependem do transporte público começaram a se organizar para suprir as informações ausentes do sistema. Hoje é comum encontrarmos comunidades no Twitter, grupos de Whatsapp e até mesmo folhas com dados de linhas. Evidentemente, os passageiros são uma fonte de informação valiosíssima sobre o comportamento do sistema em tempo real. Os mecanismos que existem hoje em dia, entretanto, são na maior parte ad hoc, e as informações geradas pelos usuários do sistema ficam restritas a pequenos grupos que não se comunicam. O objetivo do Coletivo é o de estimular a participação dos usuários do sistema e de difundir em larga escala as informações coletadas e fornecidas pelos passageiros do sistema ao longo do dia. Somos um time de empreendedores e pesquisadores e tempos ampla experiência em áreas correlatas (mobilidade, tecnologia, sustentabilidade, engajamento e etc), e em junho de 2013 ao vermos os movimentos de mobilização e a necessidade de mudança decidimos nos engajar, e direcionamos nossas vidas para esse propósito. Neste ano tivemos um projeto de pesquisa (PIPE) aprovado pela FAPESP e fomos selecionados para a StartupFarm onde desenvolvemos a primeira versão da aplicação, que testamos em alpha fechado por um par de meses, até concretizarmos uma parceria com a Prefeitura de São Paulo. Agora estamos implantando o teste beta para ampliar a relevância e melhorar o aplicativo para toda a cidade.
O Coletivo pretende criar um sistema de informação de transporte construído, alimentado e dedicado aos usuários. A partir dos dados de deslocamento das pessoas durante o dia, pretendemos complementar os dados de posicionamento de ônibus e trens fornecidos pelos gestores do sistema. Através das contribuições dos usuários, pretendemos conhecer a afluência de cada linha e prever os horários de pico de afluência ou identificar veículos com baixa afluência no sistema. Utilizando os sensores de geolocalização dos smartphones, estamos identificando o tempo de espera médio nos diversos modais ao longo do dia. Nosso sistema de categorização automática de tweets pode identificar problemas a partir das reclamações dos usuários no Twitter e prevenir outros usuários que utilizem a linha ou o meio de transporte afetado. Para estimular a contribuição dos passageiros, nossa aplicação é útil a partir do dia 0, fornecendo a previsão de chegada dos ônibus em cada ponto da cidade. Além disso, ela possui uma interface de cards, similar à da aplicação Google Now, que mostra informações relacionadas ao transporte de forma não estruturada. Se o usuário não se interessa por um dos cards, ele pode simplesmente removê-lo. Assim conseguimos identificar o contexto de uso da aplicação por parte do usuário e as informações que são mais relevantes para ele, ao mesmo tempo que o atualizamos em tempo real com eventos gerados por outros usuários do sistema. As informações coletadas ao longo do tempo serão concentradas e analisadas por uma aplicação Web, que fornecerá informações analíticas sobre o sistema. Desta forma, planejadores urbanos, gestores e operadores poderão melhor identificar o perfil de uso de seus veículos, a repercussão de problemas, os horários de pico, principais pontos de embarque e desembarque, as demandas suprimidas, as linhas mal atendidas, e outras informações que hoje ou não existem, ou são incompletas, ou são muito caras de se obter.
Passageiros do transporte público
Realizamos um primeiro piloto com um MVP (Minimum Viable Product) na Avenida Luís Carlos Berrini durante uma semana em Junho/14 e observamos o comportamento dos usuários em duas situações: funcionamento normal do sistema e dias de greve dos transportes. Em dia de funcionamento normal do sistema de transporte, os passageiros que receberam a informação do sistema ficaram mais relaxados em saber que o ônibus estava a caminho e adaptaram seu comportamento ao tempo previsto de espera. Um dos usuários resolveu deixar um ônibus passar e pegar o seguinte para continuar conversando com um amigo. Outra usuária que havia pedido um táxi -- em função da demora do seu ônibus -- cancelou o táxi ao saber que o ônibus iria chegar em menos de 2 minutos. No período de greve algumas linhas funcionaram normalmente enquanto outras não circularam, aumentando a incerteza do passageiro. Nestes dias, nós nos tornamos o ponto oficial de informação da parada: pessoas que nós não havíamos abordado vinham nos procurar para saber se uma determinada linha estava operando. Alguns usuários, ao saber que a linha não operava, partiram imediatamente em direção a outro ponto onde eles poderiam pegar outra linha. Nas duas situações (operação normal e greve), cerca de 40% dos usuários que foram abordados contribuíram com o sistema, informando se o ônibus estava cheio ou vazio. Pudemos perceber que mesmo utilizando um protótipo mínimo já foi possível mudar a vida das pessoas, e que os passageiros estão dispostos a colaborar para melhorar a qualidade do transporte. Atualmente em parceria com a Secretaria de Transporte e Secretaria de Direitos Humanos estamos ampliando a área de teste para o corredor da Paulista entre a Av. Consolação, até o Jabaquara, que deve ser implantada em novembro de 2014.
Em nosso protótipo, os usuários colaboravam através de um grupo Whatsapp mediado pela nossa equipe. Na aplicação Coletivo, existem duas formas de colaboração: implícita, ou seja, através do uso da aplicação com o usuário fornecendo informações anonimizadas da sua localização, velocidade de deslocamento, tempo de espera, tempo de viagem, entre outras, e de forma explícita, através de informações adicionadas diretamente pelo usuário a fim de informar acidentes, problemas, falhas, lotação, ou até mesmo para responder pesquisas de interesse das secretarias de planejamento e de transportes da cidade. Além disso, os usuários podem contribuir via Twitter, como alguns já fazem. Nosso sistema monitora algumas contas de usuários que concentram informações sobre transporte na cidade de São Paulo e identifica problemas relatados pelos usuários e onde eles estão ocorrendo. Pretendemos contribuir de volta com as comunidades existentes nas redes sociais, gerando posts a partir de contribuições dos usuários feitas através da aplicação Coletivo. O engajamento da comunidade é fundamental para a potencialização dos resultados que estamos desenvolvendo, quanto mais participantes, mais relevância, maior a precisão e mais eficaz a solução, para tanto o aplicativo não possui barreira de entrada (é gratuito) está sendo testado na plataforma móvel de maior base de usuários (Android) e ampliaremos para todas as demais.
03/2014 (porém a idealização vem sendo construída desde 10/2013)
