Por uma cidade com mais mobilidade

O Instituto Cidade em Movimento (IVM) inaugura sede na capital paulista para promover pesquisas e projetos que tornem a cidade mais eficiente, dinâmica e interligada

BARBARA BIGARELLI
04/11/2013 00h39 – Atualizado em 04/11/2013 13h22
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Avenida 23 Maio e sua recente faixa de ônibus, vetada para carros das 6h às 22h, de seg. a sex. (Foto: Elisa Rodrigues/SMT)

São Paulo precisa se movimentar mais – e não estamos falando de programação cultural e sim, de mobilidade. O tema permeou os debates da conferência Ideas City e é o eixo principal do novo Plano Diretor Estratégico da cidade. Olhando para as estatísticas, é fácil entender por que: pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no dia 24 de outubro apontou que o tempo médio de viagem do paulistano para chegar ao trabalho aumentou 20% nas duas últimas décadas. Muitas das diretrizes do projeto da prefeitura – como novas regras para o mercado imobiliário, além da isenção de tributos para empresas que se instalarem na Zona Leste – têm por objetivo reduzir os deslocamentos urbanos. É nesse contexto que o Instituto Cidade em Movimento (ICM), com sede na França, inaugurou sua sede em São Paulo.

Depois de Xangai (China) e Buenos Aires (Argentina), São Paulo é a terceira metrópole estrangeira a receber o instituto francês sem fins lucrativos que atua no debate e intercâmbio de pesquisas e projetos na área de mobilidade. “Cada cidade exige um projeto específico, mas a nossa expertise é reunir especialistas de todo o mundo para refletir sobre a mobilidade e compartilhar experiências”, afirma Eduardo Alcântara Vasconcellos, presidente do ICM no Brasil. Um dos projetos que o instituto quer trazer para cá é o Cidade Legível, implantado em Buenos Aires.

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Ciclista utiliza a ciclofaixa próxima ao Parque Villa-Lobos (Foto: NA LATA / ÉPOCA SP)

Trata-se de um projeto desenvolvido em parceria com a prefeitura da capital argentina em linhas de ônibus e metrôs. Painéis grandes e mapas foram instalados nas paradas e no interior dos veículos e vagões indicando aos usuários o que encontrarão pelo caminho: da topografia de regiões da cidade, aos marcos histórico e arquitetônico, até serviços públicos importantes e integrações. O instituto defende que um sistema de informação mais eficiente é fundamental para a melhoria dos deslocamentos urbanos e garante autonomia ao usuário. “Pode parecer banal, mas um sistema como esse requer um grande levantamento de dados, desenho de diagramas e avaliação constante junto aos usuários”, afirma Vasconcellos. O projeto poderia ajudar a interligar usuários, transbordos e trajetos na cidade. Segundo o engenheiro, antes de implantar qualquer novidade, o ICM realizará estudos preliminares no Brasil – em parcerias com institutos e universidades – mas já está divulgando o projeto desenvolvido na capital argentina para prefeituras brasileiras. “Iremos apresentar em Niterói, no Rio de Janeiro, e fomos convidados por algumas prefeituras de cidades do interior de São Paulo”.

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Implantado em parceria com a prefeitura de Buenos Aires, o projeto “Cidade Legível” auxília o usuário com mapas e informação em pontos de parada e interiores de ônibus, metrobus e metrôs (Foto: Divulgação)

Mobilidade paulistana
Em São Paulo, os primeiros levantamentos para o projeto estão sendo realizados pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, onde, inclusive, o Instituto está sediado. “Hoje temos uma rede de ônibus extensa e com o objetivo da prefeitura de integrar corredores, há cada vez mais necessidade de um sistema de comunicação que oriente o usuário”, afirma Angélica Benatti Alvim, arquiteta e coordenadora da Pós-Graduação de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie.

O convênio com a faculdade promoverá pesquisas e levantamentos inéditos sobre a mobilidade na capital, além do intercâmbio entre alunos, docentes e especialistas. Outros eixos de pesquisa para os próximos meses, segundo Angélica, contemplam o mapeamento das práticas atuais de mobilidade da população, além de traçar as formas de transposição na cidade – estações, transbordos e passarelas subterrâneas. “Não é só metrô, ônibus e trem. O uso da bicicleta e o andar a pé são práticas crescentes nos últimos dois anos. Mas há outras também – e queremos entendê-las”, explica a professora.

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A exposição “Direito a Mobilidade” inaugurou a sede do Instituto Cidade em Movimento em São Paulo e apresentou pesquisas e projetos desenvolvidos pelo ICM em outros países (Foto: Divulgação)

O ICM pretende analisar os problemas que entravam a questão da mobilidade na cidade. Abaixo, Eduardo Alcântara Vasconcellos cita os principais desafios que surgem nesse caminho:

Calçadas
“Usar as vias como pedestres ou ciclistas ainda é uma prática realizada com grande desconforto e insegurança, pois o sistema de calçadas é precário e não há condições adequadas de uso do leito carroçável pelos ciclistas. A quantidade de acidentes graves e fatais com pedestres é muito elevada”

Transporte público
“Os usuários enfrentam graves problemas de oferta de serviços nas áreas periféricas, de baixa velocidade de circulação, de excesso de passageiros na hora do pico. Além disso, há uma grande incerteza sobre o tempo de deslocamento e uma falta clara de sinalização clara dos trajetos”.

Trânsito
“Os usuários de motocicletas estão sujeitos a índices elevadíssimos de acidentes e os usuários de automóvel experimentam tempos de percurso elevados em várias áreas da cidade”, afirma o especialista. “Muitas áreas residenciais têm um tipo de trânsito inadequado para o conforto, a segurança e a qualidade de vida dos moradores”. Sobre o trânsito, Vasconcellos acrescenta: “O grau de congestionamento é elevadíssimo e tende a elevar-se ainda mais, já que a capacidade física do sistema viário está esgotada há muito tempo e a frota de automóveis não para de crescer. Este problema  não pode ser resolvido com a construção de mais vias. É preciso reorganizar o sistema de mobilidade, de modo a aumentar as viagens a pé, de bicicleta e de transporte coletivo, reduzindo a necessidade de uso do automóvel no sistema viário principal”